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Economia e Fé

Economia e Fé

No momento de calamidade pública que vivemos, talvez seja mais fácil falar de fé do que de economia. Sempre houve ciclos econômicos, do auge à recessão e depois o recomeço. Este que vivemos atualmente tende a ser um declínio do ciclo dos grandes. O mundo está entrando numa ‘guerra’ da queda da atividade econômica, e não é de hoje. Regionalismo, declínio de blocos econômicos, guerras comerciais, protecionismos e suspeitas da continuidade de organismos como OMC, FMI, OMS ou OMA sempre existiram desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O liberalismo trouxe uma cooperação entre as nações desde então com blocos coesos e, desde 2008, surge uma inércia mundial com participações competitivas entre Estados.

Os países que estavam com estabilidade econômica e política interna vão conseguir atravessar essa crise mundial e se re-erguer com mais segurança e recuperar um PIB positivo para 2021. Países em desenvolvimento, por sua vez, com instabilidades políticas econômicas internas, vão demorar mais para ver resultados.

O Brasil, por exemplo, que desde sua crise interna de 2014 tenta se recuperar, com um PIB que não cresce, dependente da variável exportação unicamente para manter-se positivo. O perigo está no consumo e investimento que permanece estagnado, bem como na dívida pública, que só aumenta. O endividamento público está na casa dos 83% e é bem preocupante.

A identidade básica da macroeconomia em um sistema econômico aberto traduz PIB = C + I + G + (X-M), onde C = consumo; I = investimento; G = gastos públicos e o resultado de X – Exportações menos M Importações, cuja última função resulta no saldo da balança comercial. Convido vocês a explorar parte dessa equação do nível de produção e renda para C (consumo) e (X-M) no cenário de 2020.

A FUNÇÃO C

O consumo nacional, que ainda estava abalado desde 2014, nem conseguiu bem se recuperar para que em 2020 se feche todo o comércio para isolamento social contra a pandemia, prejudicando ainda mais as consequências da crise política interna de 2014.

O setor varejista, drogarias e supermercados em particular, até pode conseguir se manter, mas o varejo vestuário, lojas de departamento e descontos dificilmente vai se recuperar tão cedo. Em 2018, o real cenário da economia brasileira para o setor varejista já era de pouco investimento, uma vez que na época a taxa de juros estava mais alta, restringindo consumidor brasileiro para consumir, além de um indicador antecedente como crédito, índice de inadimplência e índice de confiança do consumidor e do empresário do setor tenderem para um cenário de pouco aceleração econômica nesse setor. Dos ‘anos perdidos’ do setor varejista 2014-2017, ao menos tentava se recuperar com medidas de crediário para os brasileiros, que agora se agrava com a sensação de desemprego, onde ninguém mais sabe se estará empregado amanhã, e a incerteza toma uma angústia diária na vida do brasileiro.

O consumo parado, seja por incerteza ou por falta de emprego, diminui ainda mais o consumo que já estava tímido e assim o PIB também cai. A projeção de PIB para 2020 será zero, senão negativa, pois se não há consumo, não há investimento e gasto público tende a aumentar.

Uma das principais contribuições de Keynes foi estabelecer que o consumo é uma função crescente no nível de renda nacional. Dado um aumento de renda, as pessoas reservam certa parcela para poupança (I), de forma que o aumento de consumo é sempre menor que o aumento da renda, em termos agregados. Agora, se não há aumento de renda e não há estímulo de riqueza ou renda futura as pessoas deixam de consumir.

A FUNÇÃO X-M

A função Exportação é autônoma em relação a renda nacional, pois são afetadas pelas rendas dos outros países, dentre outros fatores. Na função importação, pode ser que um tiro no pé seja dado com a política de substituição de importações. Um tiro no pé pois não temos tecnologia e produtividade suficiente para sermos independentes de tecnologia importada.

Um dos fatores que interferem as exportações de um país é o preço externo em dólar de nossos produtos exportáveis, taxa de câmbio nominal (reais por dólar) e a renda mundial, além de incentivos à exportação. Nesse ano com a crise de pandemia mundial não podemos esperar grandes superávits e os Estados precisam agir. Agir no fator de política externa ‘câmbio’, bem como, com muito cuidado para não causar efeito inflacionário e colocar o Plano Real em declínio, mexer nos compulsórios e emitir moeda.

Se houver desemprego em larga escala na economia nacional, é de se esperar um aumento de demanda agregada, sem que ocorra um aumento generalizado de preços, podendo enfrentar a armadilha de liquidez. A armadilha de liquidez é explicada quando há baixas taxas de juros e os agentes econômicos não esperaram grandes retornos dos valores dos investimentos físicos ou financeiros. Então ao invés de fazer investimento de longo prazo, guardam os seus ativos em depósitos de curto prazo.

A principal e mais grave consequência da armadilha de liquidez é a possibilidade de a economia poder entrar numa espiral de deflação, pois um choque desfavorável sobre a economia pode provocar a subida da taxa de juro real, com efeitos recessivos e deflacionistas adicionais na economia. Estes efeitos podem, ainda ser agravados, se existir uma baixa dos salários nominais, contribuindo adicionalmente para agravar a recessão.
A FUNÇÃO FÉ

Essa função é subjetiva, porém, totalmente pertinente para o momento que vivemos. Fé é uma palavra que significa “confiança”, “crença”, “credibilidade”. A fé é um sentimento de total de crença em algo ou alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade da proposição em causa.

Ter fé significa crer que algo ou alguém vai mudar de forma positiva e para melhor.

De acordo com a etimologia, a palavra fé tem origem no Grego “pistia” que indica a noção de acreditar e no Latim “fides”, que remete para uma atitude de fidelidade. Fidelidade à Nação. Fidelidade ao Mundo. Fidelidade para os empregadores continuarem empregando. Fidelidade que o consumo vai se recuperar, e rápido.

É preciso, mais do que nunca, a confiança no amanhã. Num amanhã onde podemos sair e dar valor a pequenas atividades e atitudes. Confiança numa Nova Economia.

Fontes:
– Economia Internacional de Renato Baumann e Reinaldo Gonçalves.
– Wikipédia significado de fé.
– O contexto histórico da Escola Austríaca de Economia de Ludwig Von Mises

Escrito em 28 de março de 2020. Exatamente quando precisamos entender Economia e ter Fé.

 

 

Sandra Bassi
Time de Academia eCOMEX | + posts

Sandra Bassi é Training Leader na eCOMEX NSI e Mestre em Economia de Mercados Internacionais formada pelo Mackenzie.  Profissional de Comércio Exterior há 25 anos. Especialista DE, Drawback e OEA.

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