A recente tragédia no Rio Grande do Sul, provocada por intensas chuvas e enchentes, deixou um rastro de calamidade que ultrapassa os limites regionais e impacta significativamente a economia brasileira, afetando diversos segmentos, desde a agricultura ao transporte de mercadorias, passando, naturalmente, pela cadeia do comércio exterior.
O estado gaúcho viu, nesse sentido, sua capacidade produtiva severamente comprometida. Segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), 91% das fábricas do estado foram afetadas.
A produção agrícola, que inclui soja e arroz, sofreu perdas significativas. De acordo com o ex-governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, na última reunião do Conselho do Agronegócio, a produção de soja pode perder entre 2 e 3 milhões de toneladas, enquanto a de arroz pode cair em cerca de 1 milhão de toneladas.
Além disso, a interrupção na produção e no escoamento agrícola afeta toda a economia nacional, uma vez que o Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de soja do Brasil.
Estudos do S&P Global e Itaú Unibanco indicam um risco de perda de aproximadamente 4% da produção nacional de soja. A situação é ainda mais grave considerando que a safra de 2024-2025 já está ameaçada devido aos impactos no plantio que iniciam no terceiro trimestre deste ano.
Essas perdas comprometem diretamente a capacidade de exportação do estado, que, de acordo com dados divulgados pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), em 2023 alcançou US$22,3 bilhões em negócios com diversos países, incluindo os Estados Unidos, a China, México e Vietnã.
Impactos na infraestrutura logística
O comprometimento da rede logística é uma das consequências mais relevantes e prejudiciais da tragédia. As enchentes destruíram não só as estradas principais, mas também as vias próximas, tornando o transporte de mercadorias quase inviável.
De acordo com a Secretaria de Logística e Transportes do Rio Grande do Sul, ainda há 67 trechos em 36 rodovias bloqueados total ou parcialmente. Esse cenário forçou as empresas de transporte a buscarem rotas alternativas, aumentando os custos de frete devido aos percursos mais longos.
Desta forma, ao observar o panorama desses impactos, é possível ter uma ideia do quanto a recuperação da infraestrutura logística do Rio Grande do Sul será um processo que, apesar de urgente, acontecerá de forma lenta e custosa. Adicionalmente, a Fiergs destacou que as 48,3 mil empresas afetadas respondem por R$116 bilhões do valor adicionado bruto do estado, com R$19,6 bilhões relacionados às exportações.
Portanto, se faz evidente que a reconstrução das estradas e outras infraestruturas logísticas essenciais será fundamental para restaurar a capacidade de exportação do Brasil e minimizar as perdas econômicas.
Este desastre também teve um impacto significativo para o segmento de seguros. Conforme dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), os avisos de sinistros decorrentes das enchentes totalizaram centenas de milhões de reais em indenizações previstas.
Seguros empresariais, de transporte e de riscos diversos somaram mais de R$322 milhões em sinistros, enquanto os seguros contra grandes riscos, incluindo infraestruturas corporativas, atingiram cerca de R$510 milhões.
Repercussões na cadeia de suprimentos e comércio exterior
A interrupção na produção e o impacto no transporte de cargas não afetam apenas o Rio Grande do Sul, mas reverberam nas cadeias de comércio internacional, incluindo ambos os ciclos, de importações e exportações. Produtos perecíveis, como alimentos frescos e medicamentos, foram especialmente impactados e a inundação de centros de distribuição somada à perda de estoques devem levar a um desabastecimento e ao aumento de preços desses produtos.
Embora ainda não haja dados concretos sobre os impactos, as primeiras repercussões já são visíveis. Produtos como arroz, laticínios, carnes e frutas foram afetados, forçando empresas a buscar alternativas mais custosas como o transporte aéreo.
Nesse sentido, o cenário trágico do Rio Grande do Sul reforça a necessidade de um planejamento logístico que considere os efeitos climáticos, bem como de estratégias voltadas para a otimização das cadeias operacionais de comex.
Ou seja, avaliações de risco, planos de contingência eficazes, investimentos em infraestrutura resiliente e práticas sustentáveis são essenciais para enfrentar futuros desafios e promover a resiliência do setor, garantindo a continuidade das exportações. Para isso, é imperativo que políticas públicas e iniciativas privadas se alinhem para desenvolver estratégias de contingência eficazes.
Além disso, a adoção de práticas que reduzam a vulnerabilidade às mudanças climáticas será, mais do que nunca, crucial para assegurar a competitividade do comércio exterior brasileiro e promover a estabilidade econômica em um cenário global cada vez mais interconectado e sujeito a desafios ambientais.
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